Ogum é o arquétipo do guerreiro.
Bastante cultuado no Brasil, especialmente por ser associado à luta, à
conquista, é a figura do astral que, depois de Exu, está mais próxima dos seres humanos.
A relação
de Ogum com os militares tanto vem do sincretismo associado às forças armadas,
como da sua figura de comandante supremo ioruba. Dizem às lendas que se alguém,
em meio a uma batalha, repetir determinadas palavras (que são do conhecimento apenas dos iniciados), Ogum aparece
imediatamente em socorro daquele que o evocou. Porém, elas (as palavras) não podem ser usadas em
outras circunstâncias, pois, tendo excitado a fúria por sangue do Orixá,
detonaram um processo violento e incontrolável; se não encontrar inimigos
diante de si após ter sido evocado, Ogum se lançará imediatamente contra quem o
chamou.
É orixá das
contendas, deus da guerra. Seu nome, traduzido para o português, significa
luta, batalha, briga. É filho de Iemanjá e irmão mais velho de Exu e Oxóssi.
Por este último nutre um enorme sentimento, um amor de irmão verdadeiro, na
verdade foi Ogum quem deu as armas de caça à Oxóssi. O sangue que corre no
nosso corpo é regido por Ogum. Considerado como um orixá impiedoso e cruel,
temível guerreiro que brigava sem cessar contra os reinos vizinhos, ele até
pode passar esta imagem, mas também sabe ser dócil e amável. É a vida em sua
plenitude.
A violência
e a energia, porém não explicam Ogum totalmente. Ele não é o tipo austero,
embora sério e dramático, nunca contidamente grave. Quando irado, é implacável,
apaixonadamente destruidor e vingativo; quando apaixonado, sua sensualidade não
se contenta em esperar nem aceita a rejeição. Ogum sempre ataca pela frente, de
peito aberto, como o clássico guerreiro.
Ogum não
era, segundo as lendas, figura que se preocupasse com a administração do reino
de seu pai, Oduduà; ele não gostava de ficar quieto no palácio, dava voltas sem
conseguir ficar parado, arrumava romances com todas as moças da região e brigas
com seus namorados.
Não se
interessava pelo exercício do poder já conquistado, por que fosse a
independência a ele garantida nessa função pelo próprio pai, mas sim pela luta.
Ogum,
portanto, é aquele que gosta de iniciar as conquistas, mas não sente prazer em
descansar sobre os resultados delas, ao mesmo tempo é figura imparcial, com a
capacidade de calmamente exercer (executar) a justiça ditada por Xangô. É muito
mais paixão do que razão: aos amigos, tudo, inclusive o doloroso perdão: aos
inimigos, a cólera mais implacável, a sanha destruidora mais forte.
Ogum é o
deus do ferro, a divindade que brande a espada e forja o ferro, transformando-o
no instrumento de luta. Assim seu poder vai-se expandindo para além da luta,
sendo o padroeiro de todos os que manejam ferramentas: ferreiros, barbeiros,
militares, soldados, ferreiros, trabalhadores, agricultores e, hoje em dia,
mecânicos, motoristas de caminhões e maquinistas de trem. É por extensão o
Orixá que cuida dos conhecimentos práticos, sendo o patrono da tecnologia. Do
conhecimento da guerra para o da prática: tal conexão continua válida para nós,
pois também na sociedade ocidental a maior parte das inovações tecnológicas vem
justamente das pesquisas armamentistas, sendo posteriormente incorporada à
produção de objetos de consumo civil, o que é particularmente notável na indústria
automobilística, de computação e da aviação.
Assim, Ogum
não é apenas o que abre as picadas na matas e derrota os exércitos inimigos; é
também aquele que abre os caminhos para a implantação de uma estrada de ferro,
instala uma fábrica numa área não industrializada, promove o desenvolvimento de
um novo meio de transporte, luta não só contra o homem, mas também contra o
desconhecido.
É, pois, o
símbolo do trabalho, da atividade criadora do homem sobre a natureza, da
produção e da expansão, da busca de novas fronteiras, de esmagamento de
qualquer força que se oponha à sua própria expansão.
É fácil,
nesse sentido, entender a popularidade de Ogum: em primeiro lugar, o negro
reprimido, longe de sua terra, de seu papel social tradicional, não tinha mais
ninguém para apelar, senão para os dois deuses que efetivamente o defendiam:
Exu (a magia) e Ogum (a guerra); Em segundo lugar, além da ajuda que pode
prestar em qualquer luta, Ogum é o representante no panteão africano não só do
conquistador, mas também do trabalhador manual, do operário que transforma a
matéria-prima em produto acabado: ele é a própria apologia do ofício, do
conhecimento de qualquer tecnologia com algum objetivo produtivo, do
trabalhador, em geral, na sua luta contra as matérias inertes a serem modificadas.
É o dono do
Obé (faca) por isso nas oferendas
rituais vem logo após Exú porque sem as facas que lhe pertencem não seriam
possíveis os sacrifícios. Ogum é o dono das estradas de ferro e dos caminhos. (Protege
também as portas de entrada das casas e templos (Um símbolo de Ogum sempre
visível é o màrìwò) - folhas do dendezeiro (igi öpë) desfiadas, que são
colocadas sobre as portas das casas de candomblé como símbolo de sua proteção).
Ogum também
é considerado o Senhor dos caminhos. Ele protege as pessoas em locais
perigosos, dominando a rua com o auxílio de Exú. Se Exú é dono das
encruzilhadas, assumindo a responsabilidade do tráfego, de determinar o que
pode e o que não pode passar, Ogum é o dono dos caminhos em si, das
ligações que se estabelecem entre os diferentes locais.
Uma frase muito dita no Candomblé, e
que agrada muito Ogum, é a seguinte: “Bi
omodé bá da ilè, Kí o má se da Ògún”. (Uma pessoa pode trair tudo na Terra Só não
deve trair Ogum).
Patakori Ogum!
Patakori Ogum!
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